quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

QUADROS DO MIRÓ


Se num qualquer país desenvolvido, lhes caíssem do céu um espólio de 85 quadros de um dos melhores e mais conceituados pintores impressionistas, não haveria qualquer dúvida em que os iriam classificar e colocar à disposição das populações, para o apreciarem, e mesmo rendabilizarem.

Nós cá não, com o argumento das dificuldades orçamentais, resolveram despachar para leilão, o melhor activo que herdamos do BPN. A porcaria foi nacionalizada; os activos bons foram privatizados, e a única coisa que não conseguiram roubar, resolvem vender, para recolher uns míseros (comparado com o custo global de mais de 8 mil milhões de euros que os portugueses estão a suportar) 40 milhões de euros. Se compararmos com o jogo, será um mero jackpot do euromilhões

Já que gostam tanto de falar de rácios, e nomeadamente o rácio da dívida pública no PIB, eu vou calcular o rácio do peso da eventual receita da venda dos quadros no total da dívida gerada com o BPN, que é:

(40/8000)*100=0,5% uns míseros 0,5 porcento, que segundo os que defendem a venda dos quadros, irão ser muito importantes no desafogo financeiro. Perdoam-se dívidas de milhões a empresários, vende-se o BPN por 40 milhões ao BIC, continuam-se após essa venda a injectar 700 milhões numa 1ª fase e numa 2ª fase 510 milhões. Pior, na perspectiva económica da lei da oferta e da procura, colocar no mercado de uma só vez 85 quadros de um só autor, não abona muito à valorização do preço dos quadros, que colocados esporádica mente em períodos diferentes, de certo que a sua valorização global dobraria o valor

O argumento do suporte do custo do BPN para os portugueses é tão pacóvio, como a venda destes quadros. Se se vier a concretizar a venda dos 85 quadros do Miró, o resultado será perto de nulo  em termos orçamentais, e do ponto de vista de benefícios para os portugueses será abaixo de nulo; ou seja negativo, porque em termos de benefícios financeiros reais, nada irá acontecer; pelo menos para o povo em geral

Se pelo contrário esta anulação do leilão pela Christies se mantiver, e os quadros nunca venham a ser vendidos, e forem colocados num espaço onde os portugueses os possam desfrutar, ficaremos com um espólio magnífico que poderá ser uma fonte de receita inesgotável, e uma riqueza imensa em termos de activo cultural.

Por tudo isto, ver um primeiro ministro a insistir em querer vender os quadros de Miró, apesar de vários pareceres contra, só revela falta de estatura de Estado.


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