quarta-feira, 1 de agosto de 2012

TRIBOS PARTIDÁRIAS


São um conjunto de indíviduos  filiados num determinado partido político, que agem e pensam na sua grande maioria congregados numa orientação de lógica grupal, onde o pensamento do líder ou dos lideres fundadores tem uma papel âncora na base ideológica do partido e na forma como orientam e canalizam a acção de toda a tribo, com o único objectivo de atingir o poder.

A dinâmica deste tipo de tribos, pela sua génese e fins que a orientam, fazem com que o pensamento individual seja residual, e quando existente, é diluído pela própria dinâmica grupal cuja orientação e motivação é tanto maior  consoante o cariz do lider actual.

A crise ideológica contemporânea, iniciada com a queda do muro de Berlim, e agravada com sociedade do bem estar, fez com que o papel das lideranças destas tribos (com excepção de algumas) tenha cada vez mais um papel importante, já que, independentemente daquilo que pensam e dizem, o fundamental é  o impacto que causam junto do eleitorado que os elege e  pode levar ao tão ambicionado poder.

A liderança é tão ou mais forte, quanto maior for a sua capacidade de levar ou não o partido ao poder, independentemente da  substância e densidade intelectual que possuam. Os pergaminhos da liderança são reconhecidos pela forma como este consegue criar um discurso consensual e agregador para dentro e fora da tribo. A forma,  neste tipo de tribos, tem uma importância muito maior que o conteúdo, já que este é avaliado não em função da sua densidade programática ou ideológica, mas sim na capacidade deste elevar as hostes a atingir a catarse colectiva. O lider passe de bestial a besta de um dia para o outro, bastando para tal que perca umas eleições. O novo líder, poderá ter no dia seguinte um discurso do ponto de vista programático e até ideológico completamente diferente do seu antecessor, para que aqueles que um dia antes aclamavam com cego entusiasmo a sua exaltação discursiva, passem no dia seguinte a manifestar o mesmo grau de entusiasmo com a exaltação dircursiva da nova liderança, mesmo que esta seja completamente antagónica com a anterior.

Outra características, senão a principal deste tipo de tribos, revela-se ao nível da análise dos factos, quer sejam de cariz económico, social e político. É o chamado pensamento carneirista, ou seja,  a forma como analisam determinado problema, facto ou acontecimento, é feito, não com desprendimento analítico que seria desejável para o respirar  da própria democracia, mas sim com os óculos color-ó-partidários que os sujeitos da tribo colocam na análise dos mesmos. Dai não ser de admirar que uma mesma ocorrência analisada por tribos diferentes, tenha conclusões diferentes consoante quem a tenha praticado. Para melhor compreensão do leitor, vou referir-me ao recente caso da licenciatura de Miguel Relvas. Aquilo que se passou com Miguel Relvas na óptica do partido a que este pertence, teria uma análise completamente diferente, se o mesmo se tivesse passado nos mesmos termos  ipsis verbis com um dirigente do PS. Este tipo de comportamento discursivo não é fundamentado em nenhum princípio ideológico, mas sim num comportamento irracional e patológico, a que chamarei mesmo Pavloviano. Agem sempre da mesma maneira, quando o estímulo é defender as hostes.

Desta característica tribal enfermam transversalmente todos tribistas filiados, dado que mesmo aqueles que habitalmente conseguem analisar factos com algum distanciamento, não conseguem tirar os óculos  coloridos da sua tribo. Não parecem representar, ou querer vir a representar um dia toda uma nação. Mais parecem ser membros de uma qualquer claque clubista apaixonada, onde o coração e a razão frequentemente se confundem;  confundindo-se a eles próprios nos seus mais recônditos momentos de reflexão, e confundido e desacreditando todos aqueles que os escutam e elegem regularmente. Não é de admirar, que muitas, mas muitas vezes sejam confrontados com discursos contraditórios, feitos em timmings cuja única diferença consiste em estarem ou não no poder. É aquilo a que chamo falta de integridade intelectual.

Não foi de estranhar que aquando da sua 1ª eleição para a Presidência da República, Mário Soares tenha entregue o seu cartão de filiação na tribo, retirando de cima de si todo o peso tribal.


Nestas tribos estão infiltrados  membros,  que  logo chegado o partido ao poder, tem com objectivo principal, criar redes de amigos com interesses comuns, que utrapassam largamente o interesse colectivo e visam exclusivamente o seu bem estar pessoal. São os tribistas com apurado sentido de sobrevivência, sempre prontos a transitar de armas e bagagens de uma para outra tribo dominante do sistema, e destes para os mais altos quadros das empresas do regime democrático. Patriotas convictos acima de qualquer suspeita (que umas quantas deslocalizações, exportações de lucros ou fuga ao fisco de modo algum mancham) capazes de interromper por momentos a exigente tarefa de tratar da sua vida e negócios para, com comovente desinteresse, darem indicações precisas sobre as políticas económicas e financeiras que ao País interessam.

São estas tribos que nos têm governado ao longo das últimas décadas. Não é de admirar que o estado da nação esteja neste estado deplorável.

Não é minha intenção chamar estúpidos ainda que indirectamente a quem elege estes tribistas malabaristas da palavra, mas na verdade nós continuamos a pagar bilhete para ir ao circo.


As tribos partidárias são uma criação da democracia.

Parafraseando Winston Churchil:

 " A democracia é o pior dos sistemas exceptuando todos os outros. "





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