A alegria manifestada por algumas personalidades da praça portuguesa com a vitória socialista de Francois Holland na França, enternece os corações mais empedernidos. Não pela vitória em si mesmo da esquerda, mas pelo ingénuo optimismo e ilusão na esperança. Pensar que o simples facto de Holland na campanha eleitoral ter prometido uma alteração no tratado orçamental, de forma a promover um maior dinamismo na Europa para o crescimento e emprego, irá conduzir a resultados práticos de monta, é puro engano.
Seria sim possível, mesmo com o brutal endividamento na zona €uro se em primeiro lugar, o grosso da dívida fosse de origem interna da zona euro, ou seja, que a dívida tivesse sido financiada com poupança interna dos cidadãos Europeus. Em segundo lugar, se a Europa mantivesse as suas relações comerciais com o resto do mundo em sistema de economia fechada, ou seja, que no seu relacionamento comercial com o exterior à zona euro, os produtos importados fossem taxados à entrada, onerando o seu custo, e desestimulando um consumo desenfreado e inócuo no espaço Europeu. Mas não, o grosso da dívida da Europa não é para com a própria Europa, mas sim para com o resto do mundo; poupança externa; mas mais ! quando pensaram em desregulamentar as relações comerciais entre os estados, nomeadamente entre os principais blocos mundiais, consubstânciados na OMC (Organização Mundial do Comércio), através da eliminação das barreiras alfandegarias, deviam ter pensado que estariam a abrir uma caixa de pandora. É que competir no mercado dos preços dos produtos com países com regras diferentes gera desiquílibrios macro económicos; como seja o exemplo da deslocalização desregulada das industrias dos países com maiores custos nos factores de produção para os países onde esses custos são mais baratos. Ao deslocalizarem para esses países as produções industriais, estavam a des-industrializar a Europa, gerando desemprego e a proporcionar o desenvolvimento de uma economia de bens não transaccionáveis, ou seja de serviços.
Se estes românticos de esquerda que governaram durante largos períodos a Europa, quisessem manter o Estado Social nos mesmos moldes como até aqui, teriam que ter pensado melhor nas deregulamentação que os acordos mundiais do comércio originariam em termos da perda de competitividade da Europa no contexto mundial, nomeadamente com aparecimento dos blocos China, Índia e Brasil. Se os românticos de esquerda querem um estado Social forte, não pode haver uma grande procura de produtos importados com recurso ao endividamento oriundos de países onde o Estado Social não existe, onde a mão-de-obra é baratissíma, e para onde a transferência de tecnologia é demasiado fácil. Estamos a competir com países com regras diferentes. A única forma de conter a procura desses baratos produtos oriundos do resto do mundo, seria uma forte restrição ao endividamento, quer através da subida das taxas de juro, ou com através da taxação alfandegaria. Taxar os produtos vai contra os acordos da WTA. Subir as taxas de juro vai contra a política monetária do BCE. Aliás o BCE, com a preocupação de estimular o crescimento anémico da zona Euro tem vindo a baixar as taxas de juro para valores já perto do zero. Isto parece a quadratura do circulo. Como resolver esta questão?
Fazer um mix entre as políticas de austeridade com políticas de crescimento ? Sim ! mas quem financia essas políticas ? Lá vamos nós bater outra vez à porta da emissão monetária. Eurobonds ? Lá estamos nós outra vez a falar na solidariedade dos estados, e nomeadamente da alemã. É que os 500 mil milhões do orçamento comunitário não chegam, e a Alemanha não vai querer financiar mais os países endividados, sem ter a contra partida de que estes irão fazer ajustamentos e reformas profundas nos seus sistemas económicos, sociais e mesmo políticos, de forma a que não sejam poços sem fundo. Portanto, mesmo que se queira fazer um mix entre políticas de ajustamento e crescimento, vai ser sempre um processo doloroso.
Como dizia o já falecido professor Hernani Lopes "Os ajustamentos macro económicos são sempre realizados, quando não feitos na devida altura, acontecem sempre de uma forma mais dolorosa". Acontece nas empresas, nas famílias e porque não haveria de ser também nos Estados ? E não foram de facto realizados na devida altura pela nossa elite bem pensante. Foram realizados sim na devida altura pelos alemães. O único país que se preparou antecipadamente para este choque económico foi a Alemanha. Chegou em 2008 a acordo com os sindicatos baixando os salários e reformando antecipadamente toda a sua estrutura económica, fortalecendo-a para competir no mercado mundial, tornando assim os seus produtos ainda mais competitivos à cotação do €uro actual. Conseguem gerar procura dos seus produtos em todo o mundo. O ajustamento foi antecipado, logo pouco doloroso. No resto da zona euro a demagogia feita à maneira foi como queijo numa ratoeira. Caímos de facto na ratoeira do Euro Bom ! Bom ! Bom ! e agora vamos ter que ajustar Já ! Já ! Já !
Toda a gente pensava e principalmente o distraído mental Vitor Constâncio, que a dívida soberana não era problema, e assim seria eternamente financiada a baixas taxas de juro. Julgavam que a Europa continuava a ser o grande potencial económico mundial. Mas enganaram-se. Pelas razões já enunciadas acima, o equilíbrio de forças económico mundial deslocou o seu azimute para outras paragens. A Europa está esclerosada. Vai ter que se reformar se quer voltar a ser um player com peso que tinha no novo tabuleiro de xadrez mundial. Essas reformas vão ser dolorosas essencialmente para o comum cidadão europeu. Sempre foi assim na história e assim será no futuro......
Para os românticos do regime só tenho a dizer que têm 2 caminhos. Qualquer deles é doloroso. Um é o caminho da austeridade e do ajustamento subordinado aos ditactes e regras de uma moeda comum. O outro, poderá ser para esses românticos um caminho com maior dignidade, que é a saída do €uro. É o ajustamento da dignidade e da independência nacional. Mas tanto um como outro vai passar pela lágriminha no olho. Do ponto de vista de castigar as elites que nos levaram até aqui, preferiria a saída do €uro, que salvo aqueles que têm o dinheiro lá fora sofreriam fortemente também. A manutenção no €uro fará com que mais medida menos medida, quem vai pagar no fim as contas é a classe média e os mais fracos, já que os da verborreia mental, com mais ou menos subsídio, vão estar sempre bem remuneradinhos com euro forte a custa dos alemães.
Isto está a precisar de um Robespierre....
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