quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A DIFICULDADE AGUÇA O ENGENHO

"Os ajustamentos macroeconómicos fazem-se sempre. Quando não feitos na devida altura, são realizados com muito maior dor."
O mesmo se passa na micro-economia, quer seja nas empresas, nas famílias ou mesmo em termos pessoais.
Quantos de nós não nos arrependemos já de não ter feito isto ou aquilo com mais rigor, mais sacrifício, mais empenho ? Decerto que o leitor já passou, ou presenciou situações deste tipo. Nas empresas passa-se o mesmo. É nas alturas de crise, que a maioria dos empresários resolve ajustar. Cortar gorduras, Reduzir o desperdício. Mas será que é preciso as crises para se fazerem os ajustamentos ? Porque é que há sociedades mais desenvolvidas e mais prósperas que outras ? Não é somente porque umas têm mais recursos naturais que outras. Há países produtores de petróleo em que a maior parte da população vive na míséria. De certo que vêm sempre os anticapitalistas primários dizer que esses países são explorados pelos países capitalistas. Até pode ser verdade em algumas situações, mas essencialmente o facto do atraso de alguns povos em relação a outros, para além de factores como os seus recursos naturais, posicionamento geográfico, clima  entre outros, deve-se essencialmente à capacidade de uns serem mais organizados, mais metódicos que outros. Não necessariamente mais trabalhadores, mas sim muito mais sistemáticos e rigorosos naquilo que fazem. Daí que chegam por essa via a níveis de desenvolvimento e bem estar global muito acima de outros, que estando nas mesmas condições à partida, são mais pobres.
Mas não fugindo à questão de fundo deste artigo, que é de termos que bater muitas vezes no fundo, para reagirmos à adversidade, o que se passa é que quando nos encontramos numa situação de conforto, a tendência é para nos deixarmos estar. É como se aquela situação nunca acabasse. O dinheiro vêm. O crédito está sempre disponível. O emprego está ali sempre ao nosso dispor. Para quê estarmo-nos a maçar ? Este é o comportamento da maioria dos seres humanos, quer seja dentro das famílias; empresas; mesmo pessoalmente. O pior é quando de repente, tudo aquilo que pensávamos estar ali sempre ao nosso dispor, já não está. É tudo tão frágil. Não se lembram do famoso vulcão na Islândia. Um reles vulcão parecia que iria parar o mundo. Não demos nada por adquirido. Como diz o provérbio chinês, "Prepara o teu corpo para viver sempre e a tua alma para morrer amanhã" É quando a alma morre que devemos estar preparados para lutar.
O ditado popular de que "A dificuldade aguça o engenho" não é descabida.  É nas alturas de maior dificuldade, que que o homem se mede. O leitor não acha que um dos maiores problemas, e se calhar um dos seus maiores problemas na sua vida, deve-se ao facto de as coisas lhe terem sido dadas de mão beijada. Não concorda que se tivesse tido maior disciplina e método organizacional na sua vida, os resultados a que chegou numa determinada altura poderiam ter sido bem melhores ? de certeza que sim. O mesmo se passa com quase toda a gente. Se calhar, gostaria de dizer que se tivesse tido alguém que o obrigasse a fazer isto ou aquilo com maior empenho e dedicação teria feito muito mais e com melhores resultados do que os que alcançou, nas circunstâncias de laxismo em que o deixaram e se deixou enredar pelo conforto que lhe foi dado por esta sociedade de oferta de tudo e mais alguma coisa. De oferta  de tudo aquilo que os nossos avós algum dia nunca imaginariam, e que nós agora damos pouco valor, e como sendo repleta de direitos e valores adquiridos. Com toda a certeza, de que quando abrimos a torneira da água quente de manhã para nos lavarmos, quando vamos ao frigorífico e tiramos uma bebida fresca, quando chegamos à sala acendemos a televisão, ou ligamos o computador e navegamos na internet, damos já isto tudo como tão banal, que nos esquecemos do quanto que somos ricos. Perder o quer que seja destes bens hoje em dia parece uma impossibilidade. Será mesmo uma impossibilidade ? Não tenho tanto a certeza. Se  sairmos um pouco deste mundo maravilhoso em que nos encontramos repletos de bem estar, e fizermos uma reflexão sobre um passado recente, podemos verificar, que este conjunto de bens à nossa disposição, não existiam à cerca de meio século atrás. Também podemos verificar que, no século passado houve duas guerras mundiais. Reparem que hoje em dia o mundo têm desiquilibrios em termos políticos e económicos idênticos aos que havia  na altura dessas duas grandes guerras. A memória é curta, e de vez em quando é bom reflectirmos um pouco.
 Será talvez nesta altura de crise uma boa altura para essa reflexão, e para não darmos por adquirido tudo aquilo que temos ao nosso dispor. Já o poeta dizia "..dá-nos as horas de agonia lições de filosofia". Não sou um apologista salazareto do enaltecimento das virtudes da pobreza, mas sou um apologista das virtudes do sacrifício. Está provado que as crianças que estão educadas a resistir às tentações, são aquelas com maiores capacidades de  desenvolverem métodos de organização e de trabalho que as levam a atingir resultados que outras habituadas a não resistirem às solicitações e aos estímulos do prazer não conseguem.
Acho e estou profundamente convicto que Portugal e a Europa no seu todo vão passar por períodos de dificuldades. Vão conseguir dar a volta, porque vão reagir. As dificuldades vão fazer com que adquiram novos caminhos, saiam da situação  de estagnação; conforto e conformismo em que  se encontram e entrem novamente neste jogo de xadrez mundial, melhor posicionadas para avançar.  

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